Inspirada por uma visita a Ouro Preto, Cecília Meireles compôs esse poema de temática social, que evoca a luta pela liberdade no Brasil do século XVIII e incorpora elementos dramáticos, épicos e líricos.
Cecília Meireles é umas das vozes líricas mais importantes das literaturas de Língua Portuguesa. Quando despontava como escritora, na década de 30, a Literatura Brasileira passava pela segunda fase do Modernismo, caracterizada por uma maturidade e um descomprometimento maior em relação às questões revolucionárias vivenciadas em 1922. Sua obra, marcada pelo ecletismo, transita entre o moderno e o tradicional, entre o real e o abstrato, e apresenta equilíbrio entre formas e temas, o que a enriquece.
Em o Romanceiro da Inconfidência pode-se observar essa harmonia, uma vez que a poetisa utilizou uma forma poética do passado ibérico de grande força evocativa a do romanceiro e a temática histórica da Conjuração Mineira. A obra, de caráter épico-lírico caracteriza-se, ao mesmo tempo, pela presença da reflexão e pelo conteúdo narrativo firmemente apoiado em fatos históricos. Assim, ao se recriar a atmosfera da Vila Rica à época da revolução, são recuperados o ambiente e as sensações envolvidas na revolta.
Neste trabalho, nosso objetivo é apresentar as confluências de gêneros existentes no Romanceiro da Inconfidência, por meio da identificação das diversas vozes que se manifestam ao longo da obra, nos poemas. Essas vozes, orquestradas em diferentes tons – narrativo, lírico e dramático – dão unidade à obra, e é por meio da hábil manipulação que se faz delas que se criam os elos entre o passado e o presente, entre o antigo e o moderno, entre o circunstancial histórico e o universal.