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Para querer bem: Antologia Poética (Manuel Bandeira)

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Toda memória guarda uma infância. Muitas vezes o ofício do poeta é deixar esse reino “reacontecer” sem ignorar a poesia que houve lá. A criança que vive nele acorda e sua vida se vê invadida por um ontem que permanece. A lembrança da liberdade desmedida, a presença do encontro com a sonoridade das palavras, o espanto diante do mundo ainda por percorrer são um alimento que compensa o ato de escrever.

Manuel Bandeira entrega-nos, ao longo de sua obra, muitos fragmentos da infância sem adulterá-los. Ele preserva e confirma a poesia como um patrimônio também da criança. A capacidade que o sujeito possui, desde sua origem, de querer deitar encanto sobre as coisas, ele a renova em cada verso e nos remete a um estado poético que já conhecemos um dia.

Daí sua poesia, em tantos momentos, se fazer possível a todos, pelo que há de rigorosa singeleza. Manuel Bandeira praticou, em sua obra, a existência como um fio único, sem rupturas. Pelo lúdico, pelo humor, pelo que existe de inusitado em sua construção, ele nos surpreende. Ele nos faz experimentar que a poesia está em nós e sua função de poeta é jogar luz sobre o nosso lugar. Por ele o leitor se faz proprietário da intuição poética que nos funda.

A poesia de Manuel bandeira, mais que mostrar um novo olhar sobre o mundo, nos faz sensíveis e gratos pelo seu exercício ao nos fazer florescer sobre nossas próprias raízes.

 

  • Abaixo você encontra um poema contido nesta sua obra:
                                 Namorados

O rapaz chegou-se para junto da moça e disse:
- Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo,
com a sua cara.
A moça olhou de lado e esperou.
-Você não sabe quando a gente é criança e de repente
vê um lagarta listada?
A moça se lembrava:
-A gente fica olhando...
A meninice brincou de novo nos olhos dela.
O rapaz prosseguiu com muita doçura:
-Antônia, você parece uma lagarta listada.
A moça arregalou os olhos, fez exclamações.
O rapaz concluiu:
-Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

 

https://www.youtube.com/watch?v=acWHzVBs394

 

Manuel Bandeira

Manuel Bandeira (1886-1968) foi um poeta brasileiro. “Vou-me Embora pra Pasárgada” é um dos seus mais famosos poemas. Foi também professor de Literatura, crítico literário e crítico de arte. Os temas mais comuns de sua obra são: a paixão pela vida, a morte, o amor e o erotismo, a solidão, o cotidiano e a infância.

Manuel Bandeira (1881-1968) nasceu na cidade do Recife, Pernambuco, no dia 19 de abril de 1886. Filho do engenheiro Manuel Carneiro de Souza Bandeira e de Francelina Ribeiro, abastada família de proprietários rurais, advogados e políticos. Seu avô materno Antônio José da Costa Ribeiro, foi citado no poema “Evocação do Recife”. A casa onde morava, localizada na Rua da União, no centro do Recife é citada como “a casa do meu avô”.

Manuel Bandeira viajou, junto com sua família, para o Rio de Janeiro, em 1890. Ingressou no Colégio Pedro II, onde foi amigo de Souza da Silveira, um estudioso da língua portuguesa. Em 1892 voltou para o Recife. É nessa época que escreve seus primeiros versos, não pensava ainda em ser poeta. Em 1903 vai para São Paulo e ingressa na Escola Politécnica, no curso de Arquitetura, mas no fim do ano letivo teve que abandonar os estudos, por ter contraído tuberculose. Voltou para o Rio de Janeiro onde tentou tratamento em estâncias climáticas em Teresópolis e Petrópolis.

Em 1913, Manuel Bandeira vai para o sanatório de Cladavel, na Suíça, onde convive com o poeta francês Paul Éluard, que coloca Manuel Bandeira a par das inovações artísticas que vinham ocorrendo na Europa. Discutem sobre a possibilidade do verso livre na poesia. Esse aspecto técnico veio fazer parte da poesia de Bandeira, que foi considerado o mestre do verso livre no Brasil.

Com o início da Primeira Guerra, em 1914, Bandeira volta a morar no Rio de janeiro. Em 1916, morre sua mãe. Em 1917, publica seu primeiro livro “A Cinza das Horas”, de nítida influencia Parnasiana e Simbolista. Em 1918, morre sua irmã, que tinha sido sua enfermeira durante muito tempo. Em 1919, publica “Carnaval”, que representou sua entrada no movimento modernista. No ano seguinte morre seu pai.

Em 1921, conhece Mário de Andrade e através deste, colabora com a revista modernista Klaxon, com o poema “Bonheur Lyrique”. Morando no Rio de Janeiro, estava distante do grupo paulista que centralizava os ataques à cultura oficial e propunha mudanças. Para a Semana de Arte Moderna de 1922, enviou o poema “Os Sapos”, que lido por Ronald de Carvalho, tumultuou o Teatro Municipal. Nesse mesmo ano morre seu irmão.

Manuel Bandeira vai cada vez mais se engajando no ideário modernista. Em 1924, publica “Ritmo Dissoluto”. A partir de 1925, escreve crônicas para jornais onde faz críticas de cinema e música. Em 1930, publica “Libertinagem”, obra de plena maturidade modernista. No poema “Evocação do Recife” que integra a obra, tematiza a infância, faz uma descrição da cidade do Recife no fim do século XIX. Incorpora também vários temas ligados à cultura popular e ao folclore.

Em 1938, é nomeado professor de Literatura do Colégio Pedro II. Em 1940 foi eleito para Academia Brasileira de Letras, ocupando a cadeira de nº24. A partir de 1943 é nomeado professor de Literatura Hispano-Americana da Faculdade Nacional de Filosofia. Em 1957, viaja durante quatro meses pela Europa. Ao completar oitenta anos, em 1966, publica “Estrela da Vida Inteira”.

Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho faleceu no Rio de Janeiro, no dia 13 de outubro de 1968.

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