Para a família, ele era apenas Joãozito. Para os amigos mais íntimos, Rosa. João Guimarães Rosa nasceu em 1908, na pequena Cordisburgo, região central de Minas Gerais, onde o pai, Florduardo Pinto Rosa, tinha uma “bitaca”, espécie de venda onde boiadeiros faziam hora antes de embarcar o gado na vizinha estação da Central do Brasil. Foi nesse estabelecimento comercial, atrás do balcão, que o menino míope, que se tornaria um dos mais importantes escritores brasileiros, começou a cultivar o hábito de registrar histórias de sertão e de sertanejos, que mais tarde habitariam sua obra.
Ainda criança, mudou-se para a casa dos avós em Belo Horizonte, onde terminou o curso primário. Em 1925, com apenas 16 anos, matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade de Minas Gerais. Em 1931, com o diploma na mão, chegou a Itaguara e se reencontrou com o sertão. Posteriormente entrou para Força Pública e foi servir em Barbacena, também em Minas, como oficial médico do 9° Batalhão de Infantaria. Mas não era mais a medicina que o fascinava. Aprovado em concurso para o Itamaraty, passou a servir como diplomata em países da Europa e da América Latina. Nesse período publicou seus primeiros livros.
Foi aí que surgiu aos olhos da crítica especializada o escritor de estilo único, obcecado pela linguagem. Primeiro veio Sagarana, lançado em 1946. Dez anos depois, sua obra-prima, Grande sertão: veredas, eleito por escritores do primeiro time de 54 países como um dos 100 melhores livros já escritos no mundo. É o único brasileiro da lista. Ainda vieram livros como Corpo de baile(1956) e Primeiras estórias (1962).
Em 1963, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Adiou a cerimônia de posse enquanto pode, afirmando ter medo de morrer no dia do evento. Só veio a tomar posse em 1967. Morreu três dias depois, de infarto, no Rio de Janeiro, aos 59 anos.
Fonte: Globo Rural
Documentário de 1980 inspirado em uma entrevista concedida por João Guimarães Rosa em que o mesmo expõe sua identidade não dissociando a vida da arte, nem o homem do escritor. O documentário busca reconstruir o seu conceito de sertão com o apoio de pessoas como o mestre santeiro Noza, o cantador Severino Pinto, o “coronel” Chico Heráclito e o cego Raimundo Silvestre dos Santos que canta uma canção de vaqueiros. Pretende-se afirmar que o sertão é também uma maneira de pensar e viver, um espaço de criação e eternidade que carregamos dentro de nós.
https://www.youtube.com/watch?v=swCEypP5dO8
Assista aqui esta entrevista rara de João Guimarães Rosa com Walter Höllerer para um canal de televisão independente em Berlim, em 1962. São as únicas imagens em movimento do escritor. Imagens que nunca foram ao ar, retiradas do documentário “Outro Sertão”, dirigido por Adriana Jacobsen e Soraia Vilela, que encontraram o vídeo numa pesquisa de mais ou menos 10 anos sobre a relação do escritor com a Alemanha. Rosa apresenta o livro Grande Sertão: Veredas e também outro de contos, Primeiras Estórias. Fala sobre seu processo de escrita. Lembremos que ele havia sido embaixador em Berlim em 1936, tendo ajudado diversos judeus a fugirem da Alemanha Nazista. Percebam que, embora responda em português, ele entende as perguntas do entrevistador alemão.
https://www.youtube.com/watch?v=ndsNFE6SP68