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O Governo Castelo Branco – Luís Viana Filho

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Chefe da Casa Civil do primeiro governo da Revolução de Março, e a seguir seu Ministro da Justiça, luís Viana Filho disporia de um vasto cabedal de reminiscência pessoais, que só por si autorizavam o esforço e a oportunidade de seu depoimento.

No entanto, longe de orientar-se nessa direção, que faria de seu livro apenas um testemunho, quis o biógrafo de Rui Barbosa, de Rio Branco, de Nabuco e de Machado de Assis, com a sua experiência da pesquisa e da crônica política, ampliar-lhe as dimensões para uma obra de caráter e conteúdo histórico.

Em vez da singularidade de seu próprio depoimento, preferiu valer-se de todas as fontes possíveis, desde a carta particular ao comentário de jornal, desde o diário íntimo ao depoimento conspícuo, e daí resultou esta obra fundamental da história política do Brasil.

Para realizá-la, o narrador soube ser biógrafo, repórter, confidente, pesquisador, arquivista, recorrendo às fontes habituais do subsídio histórico, de modo que seu trabalho – ainda sem a perspectiva do tempo, necessária às narrativas do seu porte – pudesse, mesmo assim, ser rigorosamente histórico, como transunto e espelho de informações objetivas, ajustadas a uma fase da vida política e administrativa do Brasil.

Iniciando numa hora polêmica da vida nacional. o Governo do Marechal Castelo Branco reclamava a urgência de um depoimento como este, a fim de que não se toldassem, com o passar do tempo, as verdades que nele se amalgamaram.

Diz-nos Luís Viana Filho, na Nota Liminar de seu livro, que não pensara em escrevê-lo. Sempre imaginara que o próprio Presidente Castelo Branco o redigiria, mais cedo ou mais tarde, como uma emanação natural de sua personalidade singular. A morte do estadista, ocorrida em circunstâncias trágicas, levou Luís Viana Filho a pensar em suprir-lhe o silêncio irremediável, tratando de escrever a obra que lhe parecia essencial.

E em tão boa hora se voltou para este propósito, tratando de reunir os materiais necessários ao monumento, que já agora seria impossível – pelo silêncio de outras mortes – recolher alguns dos depoimentos que sensivelmente o enriquecem.

Luís Viana Filho, por outro lado, não se limitou a esse trabalho paciente. Na hora própria, o escritor dominou o material acumulado, e foi dando forma e corpo a este livro, que passa a ser, desde a hora de sua publicação, uma obra fundamental da historiográfica brasileira – sem prejuízo de seu valor de ordem literária.

A experiência do historiador e do biógrafo se defrontou, desta vez, com um tipo novo de trabalho. Nos seus livros anteriores, Luís Viana Filho se debruçara sobre os papéis dos arquivos, e dera vida a Nabuco, a Rui, a Rio Branco e a Machado de Assis, sem que houvesse convivido com os seus modelos.

No caso do Marechal Castelo Branco, a figura do estadista era, para o escritor e historiador, um pouco de si mesmo, no cabedal das lembranças comuns. Esta circunstância teve outro desfecho. Em vez de a figura vulgarizar-se, pela frequência de seus contatos – só fez engrandecer-se.

Convém lembrar, por outro lado, que Luís Viana Filho, ao deixar a Chefia do Gabinete Civil para assumir a pasta da Justiça, ainda no Governo Castelo branco, ouviu do Presidente da República, em discurso escrito, o louvor destas palavras: “Sendo a inteligência o principal instrumento de trabalho de Vossa Excelência, a colaboração (que me prestou) tem o vigor de renovados méritos intelectuais, a par de uma imaginação ajustada à realidade do problema diário ou especial. Nunca Vossa Excelência apresenta soluções tímidas ou que estejam além do praticável. O senso político e o conhecimento dos assuntos são parelhos ao caráter, onde o homem, pela formação, coragem e espírito público, tem grandeza e compreensão do que é humano.”

Precisamente essa “compreensão do que é humano”, aliada à “coragem e ao espírito público” orientam Luís Viana Filho na elaboração desta explanação de um período de governo.

Deste livro se pode assim dizer que, tendo tudo para ser apenas um testemunho, surge hoje como um monumento. Não vem isento de controvérsias, como se verá. Mas foi escrito com aquele cuidado da verdade vigilante que se inspira na austeridade e na boa fé.

  • Abaixo temos uma reportagem sobre o governo do General Humberto de Alencar Castelo Branco.

https://www.youtube.com/watch?v=dMp2BZ9QwgY

 

Luis Viana Filho

Luiz Viana Filho nasceu no dia 28 de março de 1908, em Paris, mas foi registrado no Distrito da Sé, em Salvador, Bahia, filho do conselheiro Luiz Viana, presidente da Província da Bahia (1896-1900) e senador da República(1911-1920) e de Joana Gertrudes Fichtner.

Fez o ensino fundamental nos colégios Anchieta, em Friburgo (RJ), e Aldridge, no Rio de Janeiro, e o médio no Colégio Pedro II, Rio de Janeiro, e no Ginásio da Bahia, em Salvador.

Ingressou na Faculdade de Direito da Bahia, em 1925, iniciando-se também no jornalismo como colaborador dos jornais baianos Diário da Bahia e A Tarde.

Em 1929, bacharelou-se em Ciências Jurídicas e Socais e começou a participar da política partidária brasileira como um grande opositor da Revolução de 1930.

Além de jornalista, atuou como advogado em parceria com Aliomar Baleeiro e Álvaro Nascimento.

Casou-se, em 1931, com Julieta Pontes, com quem teve seis filhos: Frederico, Luiz, Lia, Julieta, Celina e Maria Lúcia.

Candidatou-se, pelo Partido Libertador da Bahia, à Assembléia Nacional Constituinte de 1933-1934, sendo eleito como o mais jovem deputado da época.

Por causa da dissolução do Congresso Nacional, em 1937, com a instauração do Estado Novo, passou a dedicar-se ao ensino e ao jornalismo, durante todo o governo de Getúlio Vargas. Foi professor de Direito Internacional Público, da Faculdade de Direito da Bahia; professor catedrático concursado de Direito Internacional Privado e professor nomeado para a cadeira de História do Brasil, da Faculdade de Filosofia da Bahia.

Após a queda do Governo Vargas, foi eleito deputado federal para a Constituinte de 1946, retornando à vida política brasileira e sendo reeleito para as legislaturas de 1950, 1954, 1968, 1962 e 1966.

Começou a se interessar por biografias, publicando a de Rui Barbosa, em 1941. Posteriormente, publicou as de Joaquim Nabuco, Barão do Rio Branco,  Machado de Assis, José de Alencar, Eça de Queirós e Anísio Teixeira. Segundo o escritor Gilberto Freyre, […] O professor Luiz Viana teve a coragem de tratar os seus biografados como homens, admitindo neles fraquezas, erros, contradições, deficiências, compensadas por virtudes ou talentos excepcionais […].

Eleito para ocupar a Cadeira nº 22 da Academia Brasileira de Letras, em 8 de abril de 1954, tomou posse no dia 15 de abril de 1955, sendo recebido por Menotti Del Picchia.

Foi membro de várias instituições históricas e culturais, como o Instituto Histórico e Geográfico da Bahia; a Academia de Letras da Bahia; o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro; a Academia Internacional de Cultura Portuguesa, Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Portuguesa de História.

Em 1964, convidado pelo presidente Castelo Branco, chefiou a Casa Civil da Presidência da República e, em 1966, concorreu ao governo da Bahia, numa eleição indireta – característica da época do regime militar por ele apoiado – tomando posse em 15 de março de 1967. Como governador da Bahia (1967-1971), implantou o parque industrial  e o Polo Petroquímico, em Aratu, na Bahia; ampliou a rede escolar do estado; criou o Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac), o Museu de Arte da Bahia (MAB) e a Biblioteca Pública dos Barris.

Eleito senador, em 1974, exerceu os cargos de presidente da Comissão de Relações Exteriores e do próprio Senado Federal, no biênio 1979-1980, além de ampliar a Biblioteca da instituição, que, em 1997, adquiriu a sua biblioteca particular, composta por mais de 11.000 volumes e cerca de trezentas obras raras e preciosas (Coleção Luiz Viana Filho).

Professor, jornalista, político, biógrafo, historiador e ensaísta, Luiz Vianna Filho deixou diversas obras, entre as quais podem ser destacadas:

O Direito dos empregados no comércio (1932); A língua do Brasil(1936); A Sabinada: A república baiana de 1837 (1938); A vida de Rui Barbosa (1941); A verdade na biografia (1945); O negro na Bahia (1946); Rui e Nabuco (1949);  A vida de Joaquim Nabuco(1952); Antologia de Rui Barbosa   (1954); A vida do Barão do Rio Branco (1959); Da nacionalidade das sociedades (1959);  Afrânio Peixoto (1963); A vida de Machado de Assis (1965); O Governo Castelo Branco (1975); Rui Barbosa: seis conferências (1977); A vida de José de Alencar (1979); Três estadistas: Rui, Nabuco, Rio Branco (1981); A vida de Eça de Queiroz (1983); Petroquímica e industrialização da Bahia : 1967-1971 1984);  Octavio Mangabeira: um homem na tempestade (1986); Anísio Teixeira: a polêmica da educação (1990).

Morreu em São Paulo, no dia 5 de junho de 1990, quando exercia o último ano do seu segundo mandato como senador da República (1982-1990).

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