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Primeiro Dia de Aula – Julio de Cezaro Piovesan

Naquela manhã, no mesmo instante em que abri os meus olhos o despertador toca, eram 06h30min da manhã e esse era o meu primeiro dia de aula. Eu não estava nem um pouco com vontade de ir para e escola, a minha visão sobre aquele lugar era bem complexa. Imaginava pessoas estranhas e senhoras bravas, com réguas gigantes, cabelo grisalho, óculos na metade do nariz, que não gostavam de crianças e faziam alguma espécie de tortura com elas. Aquela foi a legítima imagem que tive e nem por um minuto pensei que pudesse ser diferente.

Lembro-me como se fosse hoje, eu, aquele menino tão pequeno de cabelos loiros, olhos castanhos e com uma imensa vontade de não ir para a tal da escola. Tive que levantar da cama e tirar o meu pijama de listras azuis e brancas, nesse exato momento minha mãe entra no quarto e procura naquele guarda roupas todo arrumado a peça mais nova e que ficasse melhor para o momento. Vesti-me e fui em direção à cozinha, entrei pela porta e vi a mesa arrumada cheia de coisas tão boas: bolos, frutas, geleias, suco, biscoitos…

Minha fome era tanta que comi um pouco de cada coisa e tomei um copo gigantesco de suco. Logo, me encaminhei para a sala, sentei no sofá e de cabeça baixa segurando a pequena mochila esperei minha mãe chegar perto de mim me dar uma beijoca na testa, sorrir e voltar à cozinha. No mesmo instante meu pai passa e me chama para ir para o carro, e eu, como não tinha nenhuma rota de fuga no momento, fui.

Entrei no carro, e com a cara meio amarrada, fomos em direção à escola. Observava as árvores e flores no caminho, os pássaros e as nuvens e ao mesmo temo me questionava “O mundo é tão belo, por que tenho que ir à escola?”.

Cheguei à frente daquele prédio grande com várias janelas e meu pai me disse que era ali que eu estudaria por um bom tempo; me subiu um calafrio pela espinha em ouvir a palavra “tempo”. Ou seja, eu iria demorar a sair daquele lugar.

Desci do carro e com as mãos de meu pai em minhas costas fui meio que empurrado para uma sala de aula, observava os corredores cheios de cartazes e desenhos dos quais alguns até gostei. Ao mesmo tempo olhava todos sorrindo e alegres e eu sem reação alguma. Pensei em correr, fugir. Só que eu era meio sem coragem, então esperei um pouco para por meu plano em prática.

De repente, vi a oportunidade na frente dos meus olhos e aproveitando a distração de meu pai, que conversava com outro homem, o qual eu não conhecia, corri em direção à porta. Quando meu plano quase se completava e eu passava pela porta entrou em minha frente uma mulher. Nunca tinha visto alguém com aquele brilho além de minha mãe, me encantei com o sorriso dela, ela não era velha, nem grisalha e nem usava óculos. Tinha um porte médio, cabelos e olhos castanhos, pele clara, e usava uma pasta preta que segurava na mão esquerda, tinha uma calça meio azulada e uma camisa branca. Confesso que fiquei tranquilo ao ver aquela roupa, pois me lembrava do meu pijama.

Ela colocou a mão em meus ombros e me convidou e entrar na sala novamente, a voz dela era suave e tranquilizante, eu, inseguro do que fazer, resolvi dar uma chance para aquela pessoa. Voltei para os braços de meu pai e esperei. Aquela mulher disse que seria a minha professora, e eu me senti mais calmo ainda, já que a forma como eu a imaginava não poderia ser atribuída a ela. Ela falou algumas coisas com os pais que estavam na sala, mas eu não entendia o que era. Logo após, mandou que eles se retirassem, meu pai me deu um beijo na testa e saiu da sala sem dizer nada.

Eu era jovem demais, apenas uma criança que nunca tinha ido a uma escola e foi a partir daí tive a certeza que teria de me virar sozinho; tinha chegado a um ponto onde precisava ser maduro, mesmo sendo jovem demais. Notei que a escola não era bem do jeito que eu imaginava e a tal senhora que queria somente o meu mal, não era tão má assim, e, que eu viveria bem por um bom tempo naquele lugar. Foi aí que notei que nos permitir, muitas vezes é a melhor forma de aprender a viver. Notei que como naquele momento e em muitas outras vezes na vida, seria necessário encarar os medos e angústias.

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