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Mila, a ex-Gata de Rua – Kaylane Tibola Piaia

Um belo dia ela chegou, era uma manhã de sol. Meu irmão desceu do carro com uma caixinha de papelão e disse que era presente – embora não tivesse nenhuma data comemorativa naquele dia-. Eu logo abri a caixa e lá estava ela, com os olhinhos mais carinhosos que eu já tinha visto. Era uma gatinha. Ela tinha 4 semanas de vida. Era revestida com um pelo cinza e felpudo. Tinha 2 grandes olhos cor de esmeralda que brilhavam a cada coisa nova que ela via. Tinha patinhas curtas e com sola cor de rosa. Um nariz inquieto que insistia em cheirar cada coisa que via pela frente e também um rabinho espetado que parecia ter sido escovado.

Mila saiu da caixa e começou a explorar a casa. Subia nas coisas e também derrubava elas. Arranhava o sofá. Encontrava coisas muito legais como uma bolinha e outras nem tanto como o cachorro. Ela estava tão alegre na casa nova que entrou na caixa de areia e espalhou tudo pelo chão tentando mostrar que estava em um lugar bom. Tipo: -Ei humanos. Eu estou aqui! Brinquei com Mila até ela se render e dormir dentro de uma caixa de sapatos do lado de sua caminha – que gato nunca?-.

Depois de um tempo brincando com a gatinha, me questionei: “De onde veio Mila?”.

Fui atrás de respostas. Pedi para que meu irmão me contasse de onde Mila tinha vindo. O que aconteceu para ela chegar até mim?

Meu irmão conta que Mila era uma gatinha abandonada. Vagava por aquelas ruas junto ao seu irmão tentando sobreviver. Ia nas casas onde era alimentada. Mas as pessoas não podiam ficar com ela e o outro gato -que nunca recebera um nome- então os dois voltavam a rua. Tinham que dormir pelos cantos e atravessar ruas perigosas. Foi numa dessas travessias que Mila ficou sozinha no mundo. Seu irmão foi atropelado e o motorista nem se importou em ver se o gato havia sobrevivido. Não se sabe se o corpo do gatinho foi recolhido e enterrado dignamente ou apenas jogado no lixo orgânico como se fosse… lixo.

Mila se viu sozinha no mundo. Não tinha mais a companhia de seu irmão para enfrentar as temperaturas – muitas vezes abaixo de zero – de Caxias. Era hora de aprender a se virar ou não sobreviveria a esse mundo. A gatinha começou a tentar entrar nas casas onde recebia comida, mas sempre era colocada pra fora.

Quando meu irmão chegou em casa, fazia uns 5ºC. Era uma quinta-feira e o sol já estava se pondo. Já havia orvalho se formando e tudo estava gelado, -inclusive o chão onde Mila dormia toda noite-. Ele como de costume estacionou o carro fora do pátio e abriu a pequena porta embutida no portão. Adentrou o local. Atravessou o pátio até chegar em frente a casa. Pegou as chaves e abriu a porta. Mas ao fazer isso, algo saiu de trás de um vaso de planta e correu pra dentro se escondendo em meio as coisas. Meu irmão procurou pela casa toda até que algo embaixo da escada faz um barulho. Talvez um barulho de plástico ou algo caindo. E lá estava Mila, encolhida de medo atrás de uma caixa. Ela aparentava estar muito assustada. Miava de um jeito que parecia pedir ajuda. Ele não hesitou em cuidar dela até poder entregá-la para mim.

Fico imaginando Mila na rua. Onde ela dormia a noite? Onde passava o dia? Ela, pelo menos, tentava se divertir ainda na companhia do irmão? Como ela deve ter se sentido ao ver o irmão partir? Como ela chegou nas ruas? Quem teve a coragem de abandonar dois – ou até mais – gatos tão novinhos?

São perguntas que eu nunca vou saber a resposta. Mas me faz pensar em como é a vida de um animal de rua. É um mundo totalmente diferente do mundo dos pets. Eles não tem comida garantida. Não tem petshop. Não recebem amor e carinho – e se recebem são raríssimas as vezes-. Nunca se sabe o que vai acontecer. Nunca se sabe se o animal vai sobreviver até o final do dia. Pois muitos são atropelados – como foi o caso do irmão de Mila- ou sofrem outras inúmeras atrocidades cometidas pelo homem. Como envenenamento e agressão por exemplo. Mas temos pessoas boas tentando amenizar essa situação de algum jeito. Um animal nunca vai se importar se você é rico ou pobre, negro ou branco, ele vai se importar com o amor e carinho que você proporciona a ele. Todos os bichinhos merecem amor!

Mila foi encontrada no começo de 2012 e vive comigo desde então.

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