A história da convivência entre índios e padres da Companhia de Jesus tece um rosário de inúmeras experiências com momentos de altos e baixos. No dossiê O Eterno: crenças e práticas missionais, o professor Jean Baptista, de forma precisa e didática, relata acontecimentos marcantes do empenho empreendido por aqueles povos. Parte dos resultados dos esforços missionais podem ser encontrados no Museu das Missões, possuidor de um acervo de obras sacras esculpidas e policromadas, hoje totalizando aproximadamente 100 peças em estados variados de conservação. São peças oriundas de lugares diferentes da região missioneira do Rio Grande do Sul, boa parte delas coletada pelo antigo zelador do museu, Sr. Hugo Machado, ainda na década de 1930. Elas possuem tamanhos que variam de 2,20m a 10cm de altura. Nesse conjunto, é possível destacar a talha feita por um jesuíta e a talha feita por um indígena, mesmo se tratando de um mesmo santo, uma vez que as diferenças técnicas são visíveis. Um exemplo de uma escultura realizada por um jesuíta é a do santo Stanislau Kotiska em tamanho natural, feita pelo padre Antônio Brasanelli, um dos grandes escultores daquela época. Diferentemente, uma peça esculpida por um nativo apresenta características indígenas, que se percebem em casos onde ocorre a representação de cabelos lisos, olhos amendoados e distintos formatos dos pés. É nesse sentido que o trabalho do autor vem a contribuir para a pesquisa iconográfica do acervo do Museu, sobretudo quando explora o significado da palavra marangatu, denominação pela qual eram conhecidos no mundo missional aqueles que chamamos de santos. Por meio dos dados que fornece, esta pesquisa histórica irá contribuir para o trabalho de conservação preventiva que se aplica no museu (fixação da policromia imunização e consolidação do suporte), de restauração e de estudo da iconografia do acervo. A pesquisa também contribuirá na divulgação das informações ao público visitante do museu, colaborando com esclarecimentos. De fato, o público muitas vezes questiona a origem das peças e forma como foram confeccionadas, sendo recorrentes dúvidas relacionadas ao “santo do pau oco” (peças providas de cavidades na parte traseira, úteis para aliviar seu peso e distensionar a madeira), não raro entendido como um artifício do contrabando de ouro. Neste estudo, o professor e pesquisador nos oferece um panorama singular sobre a temática que envolve jesuítas e Guarani. Trata-se, sem sombra de dúvidas, de um dossiê fundamental para nossa geração e para as gerações vindouras. Com esse material, temos a certeza de que o autor oferece sua contribuição na medida em que possibilita que profissionais e leigos também possam conhecer um pouco mais dessa trajetória histórica. Foi justo e ao mesmo tempo necessário o interesse demonstrado pelo Museu das Missões em publicar esta obra.
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Jean Baptista
Jean Baptista nasceu em Porto Alegre, Em 1976, e iniciou seus estudos de História em 1997. Desde então, dedica-se à investigação dos Manuscritos da Coleção de Angelis, um dos principais acervos de documentos gerados durante a experiência das missões.
Enquanto se doutorava no curso de pós graduação em História da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS-2004-2007), sob a orientação de Maria Cristina Razzera dos Santos, participou de pesquisas financiadas pena Capes e CNPq, tais como o projeto Xamanismo e Cura na Coleção De Angelis e Lideranças Indígenas.
O autor integrou ainda o projeto de Requalificação do Museu das Missões, quando, em 2006, elaborou a primeira versão dos dossiês que compõem esta coleção.
Sua atividade docente inclui o ensino da disciplina América nos cursos de graduação em História da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e da Universidade Federal de Rio Grande (Furg). Atualmente, leciona as disciplinas de América Latina e América do Norte no curso de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) de Porto Alegre.