Hoje, torna-se evidente que a herança africana marcou, em maior ou menor grau, dependendo do lugar, os modos de sentir, pensar, sonhar e agir de certas nações do hemisfério ocidental. Do sul dos Estados Unidos ao norte do Brasil, passando pelo Caribe e pela costa do Pacífico, as contribuições culturais herdadas da África são visíveis por toda parte; em certos casos, chegam a constituir os fundamentos essenciais da identidade cultural de alguns dos segmentos mais importantes da população (Amadou Mahtar M’Bow, Prefácio da primeira edição portuguesa da HGA).
Assistimos, durante o século XX, à multiplicação dos estudos sobre o negro no Brasil, quase todos, porém, sem lhe acompanhar o passado africano. A África parecia mais que esquecida, ignorada. Embora durante a descolonização do continente se tenha reacendido o interesse brasileiro pela África, o descaso por sua história persistiu até ontem, ou anteontem. Ao começar a ser corrigido o pecado, não nos demoramos, no entanto, em reconhecer que muito do que se passava num lado do atlântico afetava a outra margem. E nos convencemos de que o Brasil também começa na África, e a África se prolonga no Brasil (Alberto da Costa e Silva, Introdução Raízes Africanas – Revista História Biblioteca Nacional).
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) desde sua criação, em 4 de novembro de 1946, apostou na crença de que elucidar a contribuição dos diversos povos para a construção da civilização seria um meio de favorecer a compreensão sobre a origem dos conflitos, do preconceito, da discriminação e da segregação raciais que assolavam o mundo. No caso brasileiro, o chamado projeto UNESCO, com pesquisas realizadas nos anos 1951 e 1952, marca o desvendamento, sob bases das ciências sociais, das formas como se configuravam as relações raciais no país.
- Para o sociólogo e professor Valter Silvério, foi fundamental para a elaboração da coleção da Unesco, a pluralidade na confecção do material, contando com a participação de pessoas de todas as regiões do país. Confira o vídeo abaixo.
https://www.youtube.com/watch?v=5SHdSNKF018
Valter Roberto Silvério
Valter Roberto Silvério possui graduação e Bacharelado em Ciências Políticas e Sociais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (1985), mestrado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1992) e doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (1999). Atualmente é professor associado do Departamento e Programa de Pós-Graduação em Sociologia da Universidade Federal de São Carlos. Tem experiência na área de Sociologia, com ênfase em Relações Raciais, atuando principalmente nos seguintes temas: relações raciais, educação, ação afirmativa, cidadania e afro-brasileiros.