Em 20 de novembro de 1695, após a destruição de quase todos os mocambos do quilombo dos Palmares, Zumbi, o líder negro que assombrava fazendeiros e autoridades nos primeiros tempos da ocupação colonial no Brasil, foi finalmente vencido e morto pelas tropas bandeirantes. O Fim heroico e as histórias sobre seus feitos inspiraram, e ainda inspiram, diversos movimentos sociais, transformando Zumbi num símbolo das lutas contra a opressão. Com base em estudos e na documentação da época, Flávio dos Santos Gomes, professor da UFRJ e pesquisador reconhecido por seus estudos sobre a escravidão, reconstitui neste livro a trajetória desse personagem histórico procurando não apenas responder quem ele foi de fato no passado colonial, mas buscando entender a apropriação, ao longo da história, de sua figura pela cultura popular, por ativistas sociais, intelectuais e artistas. Além disso, o autor analisa ainda a formação de Palmares e suas raízes africanas, bem como as diversas incursões feitas para destruí-lo. O Livro conta ainda com rico material iconográfico, cronologia e sugestão de leitura e de atividades, assim como os outros volumes da coleção.
No Brasil colonial, Palmares foi a maior comunidade de fugitivos, datando de 1597 a primeira referência a ela.
Localizada entre Alagoas e Pernambuco, estabeleceu-se no coração do Império Português no Atlântico sul — expressão que designa a vasta área atlântica entre Europa, América do Sul e África onde os portugueses tiveram suas colônias. Situava-se à distância de 120 quilômetros do litoral pernambucano, nas serras, entre as quais a principal era chamada Outeiro da Barriga, onde havia abundância de palmeiras — daí o nome Palmares. Logo se transformou em local de refúgio, existindo não só um mocambo, mas dezenas deles. Nessa região de grande floresta, os palmaristas, negros do Palmar ou negros dos Palmares — como eram denominados na documentação — construíram suas aldeias ao longo da serra, numa extensão que podia ir do rio São Francisco ao cabo de Santo Agostinho. Entre montanhas e florestas de difícil acesso, contavam com proteção natural. Havia caça e pesca abundantes, frutos e raízes, além de suas plantações. Uma definição generosa apareceria um século depois, em 1694, na correspondência trocada entre as autoridades coloniais e o Conselho Ultramarino.
O fato é que os palmaristas se organizaram num ambiente ecológico complexo. Adaptaram-se à geografia local, talvez em áreas semelhantes às savanas e aos planaltos africanos. Foram eficientes ao dominar a fauna e a flora das serras de Pernambuco, fazendo delas aliadas. Protegidos, porém nunca isolados: a economia de Palmares, de base agrícola, não se destinava exclusivamente à subsistência de uma população crescente. Com os excedentes, realizavam trocas mercantis com moradores e lavradores das vilas próximas. Farinha, vinho de palma e manteiga eram trocados por armas de fogo, pólvora, ferramentas e tudo mais de que precisavam nos mocambos. Mesmo dispersos numa extensa área geográfica, havia comunicação entre aldeias e acampamentos, com atividades econômicas que se complementavam. Num mocambo, podia ser produzida manteiga de amêndoa de palma, enquanto, em outro, fabricava-se o vinho dessa árvore.
- Zumbi é considerado um dos grandes líderes de nossa história. Símbolo da resistência e luta contra a escravidão, estima-se que lutou pela liberdade de culto, religião e pratica da cultura africana no Brasil Colonial. O dia de sua morte, 20 de novembro, é lembrado e comemorado em todo o território nacional como o Dia da Consciência Negra. Saiba mais no vídeo abaixo!
https://www.youtube.com/watch?v=hNxBw41zkRg
Flávio dos Santos Gomes
Possui licenciatura em Historia pela UERJ (1990), bacharelado em Ciências Sociais pela UFRJ (1990), mestrado em História Social do Trabalho (1993) e doutorado em História Social (1997), ambas pela Unicamp. Atua como professor dos programas de pós-graduação em História Comparada (UFRJ) e História (UFBA). Tem publicado livros, coletâneas e artigos em periódicos nacionais e estrangeiros, atuando na área de Brasil colonial e pós-colonial, escravidão, amazônia, fronteiras e campesinato negro. Em 2009 obteve a John Simon Guggenheim Foundation Fellowship. Foi pesquisador Cientista do Nosso Estado da FAPERJ (2013-2017). Desenvolve pesquisas em história comparada, cultura material, escravidão e pós-emancipação no Brasil, América Latina e Caribe, especialmente Venezuela, Colômbia, Guiana Francesa e Cuba. Atua no Laboratório de Estudos de História Atlântica das sociedades coloniais e pós-coloniais (LEHA) do Instituto de História da UFRJ.