Neste tempo em que vivemos a desestruturação das instituições sociais, onde as famílias não se reúnem nem para almoçar ou jantar, trocam várias vezes de cidade ou de casa, em que se navega por todos os lugares via internet, escreve José Sterza Justo, a escola se mantém, para surpresa de todos, preservada e intocável. Por um lado, isso é muito importante, pois é um lugar de segurança para as crianças e jovens num mundo em que a violência predomina. Por outro, é um barril de pólvora, pronto a explodir. Acolhe em si um mundo em ebulição e tenta encarcerá-lo em quatro paredes, organizá-lo, controlá-lo, mantendo-se, apesar de tudo, conservadora em seus métodos. Como poderá ela se ajustar a essa geração? Para famílias e escolas a grande preocupação parece girar em torno da formação de valores e do estabelecimento de limites. Discutindo essas questões reúnem-se nessa publicação três grandes estudiosos da psicologia. Seus textos dialogam e complementam-se em torno desse tema que aflige pais e professores: (in)disciplina e ambiente escolar. Abordando temáticas diversas, trazem importantes contribuições sobre o compromisso da escola em termos da formação moral dos estudantes.
Yves de La Taille
Agressões, humilhação, ausência de limites. Nove em cada dez educadores reclamam que as salas de aula estão cada vez mais incivilizadas e que é preciso dar um basta. Para resolver o problema, nove entre dez escolas recorrem a regras de controle e punição. “É legitimo, mas é pouco. É preciso criar uma lei para coibir algo que o bom senso por si só deveria banir?”, questiona Yves de La Taille, professor do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo. Especialista em Psicologia Moral (a ciência que investiga os processos mentais que levam alguém a obedecer ou não a regras e valores), ele defende que a escola ajude a formar pessoas capazes de resolver conflitos coletivamente, pautadas pelo respeito a princípios discutidos pela comunidade. O caminho para chegar lá passa pela formação ética – não necessariamente como conteúdo didático, mas principalmente no convívio diário dentro da instituição. Co-autor dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) sobre Temas Transversais, La Taille aponta que a tentativa de abordar assuntos como ética, orientação sexual e meio ambiente de maneira coordenada em várias disciplinas não funcionou no Brasil. “É uma proposta sofisticada que não se transformou em realidade.” Nesta entrevista concedida a NOVA ESCOLA, o ganhador do Prêmio Jabuti de 2007 na categoria Educação, Psicologia e Psicanálise, com o livro Moral e Ética, Dimensões Educacionais e Afetivas, indica caminhos para trabalhar esses temas no ambiente escolar.