O “mundo rural” do Rio Grande do Sul vem experimentando, nos últimos vinte e cinco anos, algumas formatações extraordinárias. Sob o ângulo propriamente econômico e produtivo, uma verdadeira revolução agrícola, que transformou a face agrária do Estado, redimensionando inteiramente o uso da terra e suas características tecnológicas. Se esta é uma faceta bem divulgada, a outra característica marcante é ainda quase inteiramente desconhecida: a emergência de um amplo conjunto de movimentos sociais rurais e suas organizações que adentrou o “mundo da política” e, aos poucos, vem conseguindo romper com uma estrutura de dominação social constituída historicamente, ampliando, como resultado, as oportunidades políticas para os segmentos sociais mais pobres, realocando a destinação de fundos públicos, permitindo o aperfeiçoamento de práticas administrativas locais e, assim, concretizando notáveis processos de democratização social em muitas regiões do Rio Grande do Sul.
Política, protesto e cidadania no campo analisa essas iniciativas de organização e de ampliação das estruturas de representação no meio rural gaúcho, discutindo o contexto em que emergiram, características salientes em seu desenvolvimento, eventos marcantes, desafios que se construíram ao longo do tempo e, também, seus limites e possibilidades. À luz da escassa produção sobre os movimentos sociais rurais e suas organizações, espera-se que a coletânea possa representar expressiva contribuição para a compreensão do ambiente social no campo gaúcho, no período recente e desvendar, portanto, suas tendências futuras.