As reflexões que venho desenvolvendo podem ser agrupadas em torno de três temas centaris: I. Capital e propriedade da terra. No Brasil, a grande propriedade é considerada o agente privilegiado, senão único, da modernização da agricultura. Aos pequenos agricultores, poder-se-ia oferecer a fixação no campo, uma eventual melhoria na renda, o acesso a certos bens, mas jamais a parceria no progresso da agricultura. É neste sentido que se pode afirmar a atualidade da questão fundiária no Brasil. 2. Campesinato e agricultura familiar. A “teimosia” dos camponeses em continuar existindo, quando se esperava que o capitalismo eliminasse esta “classe de bárbaros”, permitiu perceber que o lugar dos agricultores familiares na sociedade, longe de corresponder a um destino, definido ideologicamente de forma a-histórica, emerge com o resultado da sua “autonomia relativa”. 3. O mundo rural nas sociedades modernas. O mundo rural é um lugar de vida, que se define enquanto um espaço singular e um ator coletivo. Em cada caso, as tramas espaciais e sociais e as trajetórias de desenvolvimento dão o sentido das relações campo-cidade, construídas no plano da complementariedade e da integração. A intensidade da vida local depende, em grande parte, das posssibilidades econômicas, sociais e culturais acessíveis à população das áreas rurais, de modo especial, as oportunidades de trabalho e acesso a bens que constituem os fundamentos indispensáveis para a própria permanência no campo.
Como cidadã e pesquisadora do mundo rural, penso que é urgente que a sociedadae brasileira escolha a agricultura e o rural que deseja, de modo a gerar um novo pacto social, em torno de dois princípios: o rural é um patrimônio, do qual é preciso assegurar a integridade e a reprodução; um modelo sustentável de agricultura é uma proposição de síntese, que visa vencer os desafios da quantidade e da qualidade, dos produtos, dos processos de produção da vida dos agricultores e trabalhadores.
Maria de Nazareth Baudel Wanderley:
Formada em Direito pela Universidade de Recife. Doutora em Sociologia pela Universidade de Paris X, Nanterre. Orientanda de Henri Mendras e Marcel Jollivet. Pós Doutorado no CIRAD/Universidade Paul Valéry. Montpellier, França. Presidente do Centro de Estudos e Pesquisas Rurais – CEPER. Brasília. 1977-1979. Assessora Técnica da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural ? EMBRATER. 1975-1978. Bolsista IB do CNPq. Professora aposentada da UNICAMP, onde foi docente por cerca de 20 anos. Na UNICAMP: coordenadora do Mestrado de Sociologia, do Doutorado de Ciências Sociais e da área Temática do Doutorado “Agricultura e Questão Agrária”. Coordenadora brasileira do Projeto CAPES-COFECUB: Novas perspectivas do desenvolvimento agrícola na França, na Europa e no Brasil. Na ANPOCS: coordenadora do GT Estado e Agricultura. Na APIPSA: sócia fundadora, presidente e coordenadora do Grupo III “Agricultura Familiar”. Fundadora e membro do CERES/IFCH/UNICAMP. Na UFPE: professora visitante com bolsa do CNPq e da UFPE; professora do PPGS. Fundadora e coordenadora do Laboratório de Observação Permanente sobre as Transformações do Mundo Rural do Nordeste. Coordenadora local do Projeto CAPES/PROCAD. Professora do Curso de Especialização em Desenvolvimento Rural e Agricultura Familiar. Membro do Comitê Assessor Externo (CAE). Embrapa Semi-árido. Petrolina (2004-2007). Consultora Ad-Hoc da Fundação Carlos Chagas/Fundação FORD. Ações Afirmativas. Fundadora e coordenadora-presidente da Rede Nacional de Estudos Rurais. Membro do Comitê Editorial da pesquisa sobre a História Social do c da pesquisa sobre a História Social do campesinato no Brasil. Pesquisadora Visitante do CNRS/LADYSS, França. (Contrato temporário de trabalho). Recebeu, em 2011, o Prêmio Florestan Fernandes, concedido pela Sociedade Brasileira de Sociologia. Em 2016, a Rede de Estudos Rurais criou o Prêmio “Maria de Nazareth Baudel Wanderley”, a ser concedido à melhor tese sobre temas rurais no Brasil.