Esta dissertação consiste em um estudo etnoecológico que busca caracterizar a dinâmica do conhecimento ecológico local e aspectos da resiliência de três comunidades de pescadores artesanais da Lagoa Mirim. A comunidade de Santa Isabel (Z-24), no município de Arroio Grande, a comunidade do Porto (Z-16), em Santa Vitória do Palmar e a de Jaguarão (Z-25), no município de mesmo nome. Tendo em vista que a pesca artesanal é uma atividade diretamente relacionada ao conhecimento e uso de recursos naturais e regulamentada por um sistema político e social, buscou-se a partir deste trabalho, aprofundar as relações entre o sistema ecológico e o sistema sociocultural na medida em que ambos são influenciados mutuamente, gerando continuidades e transformações na atividade, dentre estas a especialização na atividade pesqueira, outrora complementada pelo extrativismo animal e vegetal. Partiu-se da hipótese de que tais comunidades praticam, em maior escala a atividade pesqueira devido à vulnerabilidade econômica e política em que se encontram. E de que as políticas públicas que interferem na pesca, bem como a política ambiental de regulamentação da atividade e o uso da água da Lagoa Mirim voltada para a produção de arroz – evidenciada na construção da Barragem Eclusa no Canal São Gonçalo -, são as principais mudanças socioambientais que atingem estas comunidades, as quais se mantêm resilientes por meio de adaptações ou modificações no seu contexto local a partir do seu conhecimento ecológico local. O percurso metodológico consistiu em períodos de observação participante, condução de entrevistas semi-estruturadas, coleta de material botânico e um mapa de recursos naturais presentes nas localidades. O universo amostral da pesquisa baseou-se no snowball sampling, método bola-de-neve, no qual cada pescador entrevistado indicou três colegas de profissão e localidade. Pediu-se que estes fossem classificados, de acordo com diferentes tempos de atividade, caracterizando longo, médio e curto tempo da atividade para que se pudesse analisar a dinâmica do conhecimento acumulado. Para a análise de dados buscaram-se as ferramentas quantitativas de estatística multivariada e ferramentas qualitativas de triangulação de informações. Neste sentido, foi possível inferir que os pescadores artesanais da Lagoa Mirim, mesmo sofrendo influências externas à sua comunidade, mantêm uma importante dinâmica no conhecimento ecológico local por eles acumulado que influencia os sistemas de manejo de acordo com disponibilidade de recursos naturais no meio onde vivem e vice-versa. E por mais que, atualmente, mantenham a maior parte das atividades na pesca, ainda assim praticam em menor escala extrativismo e agricultura, corroborando mais uma vez que a dinâmica do conhecimento ecológico local é um dos elementos que contribuem para que estas comunidades mantenham-se resilientes através de suas tradições, seu trabalho na pesca e seu conhecimento ecológico local.
Stella Maris Lemos Nunes:
A professora Stella Maris Lemos Nunes é graduada em Matemática pela Universidade do Estado de Minas Gerais (1997), possui mestrado em Estatística pela Universidade Federal de Minas Gerais (2003) e doutorado em Educação pela Universidade Federal de Minas Gerais. Sua pesquisa está concentrada na linha de Educação Matemática, com ênfase nos resultados do desempenho em Matemática dos alunos brasileiros no Programme for International Student Assessment (PISA). Atualmente é professora do Departamento de Matemática e Estatística da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Diamantina, sendo docente permanente, também, Programa de Pós-graduação em Ciências, Matemática e Tecnologia (aprovado pela Capes para início em 2019). Exerce, ainda, a função de vice-diretora da Faculdade de Ciências Exatas (FACET) da UFVJM. Foi Coordenadora Regional da Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas no período de 2006 a 2009 e Monitora de Qualidade do PISA no Brasil em 2012.
Rumi Regina Kubo:
Professora do Departamento de Ciências Econômicas e Relações Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Possui graduação em Ciências Biológicas (1989) e em Artes Plásticas (2000), mestrado em Botânica (1997) e doutorado em Antropologia Social (2006) pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Atua junto ao Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Rural (PGDR) e integra os grupos Desma (Núcleo de Estudos em Desenvolvimento Rural Sustentável e Mata Atlântica), Navisual (Núcleo de Antropologia Visual) e Nesan (Núcleo de Estudos em Segurança Alimentar e Nutricional). Tem atuado abordando os seguintes temas: desenvolvimento rural e sustentabilidade, etnobotânica e etnoecologia, práticas sociais relacionados aos recursos naturais e antropologia da imagem.
Gabriela Coelho-de-Souza:
Possui graduação em Licenciatura em Ciências Biológicas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1993), mestrado em Botânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (1997) e doutorado em Botânica pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (2003). Atualmente é sócio fundadora – Ong Anama Ação Nascente Maquiné, representante da ufrgs – Comitê Estadual da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica, representante da ufrgs – Câmara Temática de Agroecologia, Conselho Estadual de Desenvolvimento Rural e professor permanente pgdr da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Tem experiência na área de Ciências Ambientais, com ênfase em Ciências Ambientais, atuando principalmente nos seguintes temas: etnoecologia, segurança alimentar e nutricional, etnobotânica, etnoconservação e desenvolvimento rural.