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TRAVESSIAS: a vivências da reforma agrária nos assentamentos

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Os estudos que integram este livro voltam-se para o drama e o dramático na experiência de vida dos protagonistas de um processo social de referência, no caso o da reforma agrária. Um processo de impacto numa situação social de marginalização ou tendente à marginalização, envolvendo pessoas, não raro sem esperança de constituir ou de reconstituir o que provavelmente é, para muitas, o único modo de vida acessível. A análise concentra-se no modo como os participantes do processo concebem, identificam e anunciam os atores do cenário da reforma. A pauta que os domina é a da experiência negativa e sofrida do passado. É como se as comparativamente pequenas adversidades do presente fossem ainda a continuidade abrumadora de outros tempos. Sobretudo dos momentos mais tensos e incertos da vida nos acampamentos, da insegurança moral na invasão de terra supostamente alheia para firmar e proclamar o próprio direito à dignidade e à sobrevivência.
O presente das incertezas superadas, aberto a novas possibilidades e alternativas no assentamento e na reforma agrária, ainda não produziu o seu próprio discurso, ainda não gerou a sua épica, ainda não produziu uma identidade nova. O estranho, o interveniente, o invasor simbólico que há no agente de mediação das lutas sociais, ainda fala no lugar do trabalhador. Nega-lhe na prática o que verdadeiramente interessa num programa de reforma agrária que é a sua emancipação plena, a oportunidade de organizar e expor seu próprio entendimento da experiência social e ressocializadora de passar do nada da condição de sem-terra para as possibilidades amplas da reinserção social num mundo de horizontes. A fala subjetiva e a consciência social dos assentados só muito lentamente elabora os êxitos da própria luta nos benefícios do assentamento. A reforma agrária transforma o excluído em cidadão, aquele que frui direitos e se integra na construção social de uma nova realidade social para os que estavam condenados ao limbo da excludência e da falta de perspectivas.

José de Souza Martins:

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Professor Titular aposentado do Departamento de Sociologia e Professor Emérito (2008) da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Foi o terceiro brasileiro, depois de Celso Furtado e de Fernando Henrique Cardoso, a ocupar, em 1993-1994, a prestigiosa Cátedra Simón Bolivar da Universidade de Cambridge, Inglaterra, quando foi também eleito fellow de Trinity Hall. Foi professor visitante da Universidade da Flórida (Gainesville, EUA) (Mellon Visiting Professor) e da Universidade de Lisboa. Professor Honoris Causa da Universidade Federal de Viçosa (20 de junho de 2013). Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Paraíba (8 de novembro de 2013) e Doutor Honoris Causa da Universidade Municipal de São Caetano do Sul (2 de Agosto de 2014).

Na apuração do Google Scholar Citations, até 4 de outubro de 2018, seus trabalhos receberam 15.658 citações e, desde 2013, 5.447. Seu Índice h é, respectivamente, 52 e 35 Seu índice i10, de trabalhos que receberam ao menos dez citações, é, respectivamente, 97 e 68.

Na Universidade de São Paulo, onde fez o bacharelado e a licenciatura em Ciências Sociais (1961-1964), o mestrado (1966), o doutorado (1970) e a livre-docência (1992) em Sociologia, foi aluno de Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Octavio Ianni, Marialice Mencarini Foracchi, Paula Beiguelman, Ruth Cardoso, Eunice Ribeiro Durham, Ruy Galvão de Andrada Coelho,Gioconda Mussolini, Egon Schaden, Oliveiros da Silva Ferreira, Diva Benevides Pinho, dentre outros.

De 1996 a 2007, foi membro do Board of Trustees of United Nations Voluntary Fund on Contemporary Forms of Slavery (Junta de Curadores do Fundo Voluntário das Nações Unidas contra as Formas Contemporâneas de Escravidão), indicado pelo Alto Comissário de Direitos Humanos e designado pelo secretário-geral, em quatro mandatos consecutivos de três anos cada um. Em 2002, no governo do Professor Fernando Henrique Cardoso, foi designado “pro-bono” para exercer, gratuitamente, a função de membro e coordenador da comissão interministerial que preparou o Plano Nacional de Erradicação do Trabalho Infantil e do Trabalho Escravo, de novembro de 2001 a dezembro de 2002.

Recebeu os seguintes prêmios e honrarias: Prêmio “Visconde de Cairu” – 1977 (Menção Honrosa), Instituto Roberto Símonsen, São Paulo, pelo livro ”Conde Matarazzo – Empresário e Empresa” [Editora Hucitec, São Paulo, 1976]; Prêmio “Érico Vannucci Mendes” – 1993, CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência pelo conjunto da obra; Prêmio Jabuti 1993 de Ciências Humanas, da Câmara Brasileira do Livro pelo livro ”Subúrbio” [Editora Hucitec/Prefeitura de São Caetano do Sul, São Paulo/São Caetano do Sul, 1992]; Prêmio Jabuti 1994 de Ciências Humanas, da Câmara Brasileira do Livro pelo livro ”A Chegada do Estranho” [Editora Hucitec, S. Paulo, 1993], como Melhor Livro da Categoria de Ciências Humanas, de 1994; Prêmio a Pesquisador/2002, Fundo Bunka de Pesquisa-Banco Sumitomo Mitsui/Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, São Paulo, 3 de outubro de 2002; Prêmio Florestan Fernandes 2007, da Sociedade Brasileira de Sociologia, Recife, 28 de maio de 2007; Prêmio “Jabuti” de Ciências Humanas de 2009 pelo livro ”A Aparição do Demônio na Fábrica” [Editora 34, S. Paulo, 2008]. Em 2017, foi-lhe concedido, pelo Ministro da Defesa, a Medalha da Vitória, criada em 2004 pelo Presidente da República Luiz Inácio da Silva para comemorar a vitória da Força Expedicionária Brasileira na Segunda Guerra Mundial, e celebrar a Democracia e a Liberdade. Em 2017, recebeu da Câmara Municipal de São Paulo a Medalha Guilherme de Almeida. Em 15 de maio de 2019, recebeu o título de Pesquisador Emérito do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) – 2019. Designado pelo Reitor da Universidade de S. Paulo para integrar o Conselho Consultivo da USP como representante da Fapesp – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo, em 21 de maio de 2019. Eleito pela Academia Paulista de Letras, em 11 de junho de 2015, para ocupar a Cadeira nº 22, cujo patrono é João Monteiro.


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