Ana Terra é um dos episódios de O continente, primeira parte da trilogia O tempo e o vento, que compreende também O retrato(parte II) e O arquipélago (parte III).
Em 1777, início da ação de Ana Terra, a moça se encontra à beira de uma sanga quando descobre um homem ferido e desmaiado, Pedro Missioneiro.
Érico Veríssimo conta a origem de Pedro no episódio anterior, A fonte: nascera numa noite de abril de 1745 na missão jesuíta de São Miguel (cujas ruínas podem ser visitadas até hoje no noroeste do Rio grande do Sul). Era filho de mãe índia e pai branco. O pai era um “vicentista”, como eram chamados os luso-brasileiros que saíam de São Paulo rumo aos campos sulinos e ao território da missões para aprisionar índios e buscar couro de reses para as grandes sacas destinadas ao transporte de ouro em Minas Gerais. Como a mãe de Pedro morrera no parto, padre Alonzo acolhera e Batizara o menino recém-nascido, O garoto crescera aos cuidados de um cacique, dom Rafael, e do padre Alonzo. Aprendera a ler e se iniciara em algumas arte, como a poesia e a música. Perspicaz, conhecera matemática e línguas, inclusive o latim. Desde criança, dizia ter visões e conversar com Nossa Senhora.
Quando se desencadeou a guerra pela posse das Missões – portugueses e espanhóis de um lado, índios guaranis do outro-, Pedro previu que o corregedor e capitão de São Miguel, Sepé Tiaraju, morreria em combate. De fato, esse foi o destino de Sepé, personagem histórico canonizado pela tradição popular.
Em 1756, vencida a resistência dos índios, São Miguel foi incendiada e abandonada. Em meio às chamas, Pedro missioneiro fugiu a cavalo, levando como herança tudo o que aprendera e um punhal de prata que pertencera ao padre Alonzo.
Érico Veríssimo
Érico Veríssimo nasceu em Cruz Alta (RS), em 1905, e faleceu em Porto Alegre, em 1975. na juventude, foi bancário e sócio de uma farmácia. Em 1931 casou-se com Mafalda Halfen Von Volpe, com quem teve os filhos Clarissa e Luis Fernando. Sua estreia literária foi na Revista do Globo, com o conto “Ladrão de gado”. A partir de 1930, já radicado em Porto Alegre, tornou-se redator da revista. Depois, foi secretário do Departamento Editorial da Livraria do Globo e também conselheiro editorial, até o fim da vida.
A década de 30 marca a ascensão literária do escritor. Em 1932 ele publica o primeiro livro de contos, Fantoches, e em 1933 o primeiro romance, Clarissa, inaugurando um grupo de personagens que acompanharia boa parte de sua obra. Em 1938, tem seu primeiro grande sucesso: Olhai os lírios do campo. O livro marca o reconhecimento do Érico no país inteiro e em seguida internacionalmente, com a edição de seus romances em vários países: Estados Unidos, Inglaterra, França, Itália, Argentina, Espanha, México, Alemanha, Holanda, Noruega, Japão, Hungria, indonésia, Polônia, Romênia, Rússia, Suécia, Tchecoslováquia e Finlândia. Érico escreve também livros infantis, como Os três porquinhos pobres, O urso com música na barriga, As aventuras do avião vermelho e A vida do elefante Basílio.
Em 1941 faz uma viagem de três meses aos Estados Unidos a convite do Departamento de Estado norte-americano. A estada resulta na obra Gato preto em campo de neve, primeira de uma série de livros de viagens. em 1943, dá aulas na Universidade de Berkeley. Volta ao Brasil em 1945, no fim da Segunda Guerra Mundial e do Estado Novo. Em 1953 vai mais uma vez aos Estados unidos, como diretor do Departamento de Assuntos Culturais da União Pan-Americana, secretaria da Organização dos Estados Americanos(OEA).
Em 1947 Érico Veríssimo começa a escrever a trilogia O tempo e o vento, cuja publicação só termina em 1962. Recebe vários prêmios, como o Jabuti e o Pen Club. Em 1965 publica O senhor embaixador, ambientado num hipotético país do Caribe que lembra Cuba. Em 1967 é a vez de O prisioneiro, parábola sobre a intervenção dos Estados Unidos no Vietnã. Em plena ditadura, lança Incidente em Antares (1971), crítica ao regime militar. Em 1973 sai o primeiro volume de Solo de clarineta, seu livro de memórias. Morre em 1975, quando terminava o segundo volume, publicado postumamente.