Consagrado jornalista e autor de ficção, Josué Guimarães nasceu em São Jerônimo, Rio Grande do Sul , em 1921. Trabalhou em todos jornais de Porto Alegre e mudou-se para o Rio de Janeiro na década de 40, época em que também se tornou desenhista de O Malho. Foi correspondente estrangeiro no Extremo Oriente, em Portugal e na África, onde fez cobertura na guerra. Ao assumir a direção da sucursal da Folha de São Paulo, em Porto Alegre, dedicou-se menos ao jornalismo político e opinativo, reservando a maior parte de seu tempo à literatura.
Suas histórias, críticas sociais carregadas de humor e agressividade, revelam as lembranças dos dramas das revoluções e as dificuldades da infância em Rosário do Sul, cidade próxima à fronteira uruguaiana.
Aos 65 anos, quando faleceu, seu talento já era conhecido em nível nacional. Na ocasião, lamentando a perda do amigo, Moacyr Scliar afirmou ser ele o primeiro gaúcho que se voltou para o grande público depois de Erico Veríssimo.
Nesta obra, que mereceu o Prêmio Erico Veríssimo de Romance em 1976, Lagoa Branca, pequena cidade gaúcha situada num ponto qualquer entre Passo Fundo e Cruz Alta. A história transcorre na semana da Pátria, em 1936, época que antecede a implantação do Estado novo por Getúlio Vargas. O prefeito, um ditador empenhado em tornar o povo “feliz”, proíbe a distribuição de jornais e a posse de aparelhos de rádio, além de censurar a correspondência do cidadãos. Afinal, como ter paz de espírito com tantas notícias sobre fuzilamento, misérias e epidemias?
Ao contrário das tradicionais epopeias gaúchas, não há nenhum gesto heroico em Os tambores silenciosos. As personagens presentes são políticos medíocres e dominados pela ambição, mulheres infiéis e policiais violentos. Através de um par de binóculos, o leitor vai acompanhar o olhar de sete curiosas solteironas, penetrando em recantos de alcovas e no gabinete da prefeitura. Com humor e cinismo, qualidades próprias para compor a caricatura de um sistema autoritário, Josué Guimarães aniquila essa micro ditadura e constrói um obra perfeita, na melhor linhagem do realismo fantástico.