Publicada inicialmente em 1963, esta Antologia Poética, revela em precioso auto-retrato de Cecília Meireles, pois também a única em que a própria autora selecionou todos os poemas.
A escritora, cujo centenário de nascimento se comemora em 2001, escolheu textos de 14 livros, a partir de Viagem (1939), premiado pela Academia Brasileira de Letras, a Solombra (1963). Numa linguagem extremamente musical e de grande comunicabilidade, faz desfilar em frente ao leitor um ampla diversidade de temas, desde o louvor às pequenas belezas do mundo a´te as indagações transcendentais sobre o destino humano, sem esquecer o registro histórico e libertário de seu consagrado Romanceiro da Inconfidência.
Por todos esses motivos, a Antologia Poética, agora reeditada com o texto cuidadosamente revisto, é uma excelente introdução ao universo de Cecília Meireles, considerada por vários críticos como a maior poetisa da língua portuguesa.
(Antonio Carlos Secchin)
Há muita maneira de fazer-se uma antologia e não se sabe qual seja melhor. Pode-se usar um critério estético, ou didático, ou outros, conforme o objetivo que se tenha em vista. Para o leitor, a melhor antologia é a que ele mesmo organiza, ao eleger, na obra completa de um escritor, aquilo que lhe mais agrada, embora, com o passar do tempo, se possa ver como o gosto pessoal varia, e o que nos agrada igualmente noutra, tão volúveis somos em nossas preferências e tão diferente são as perspectivas, no caminho da nossa evolução.
Esta antologia, a primeira que publico – e que representa uma realização tão importante da Editora do Autor, que assim atende à divulgação de livros já esgotados ou de difícil acesso -, para enquadrar-se nas medidas adequadas de uma edição desta natureza, tem de reduzir ao essencial todos os livros que representa. No meu caso , seleção mais difícil de fazer parece-me a do Romanceiro da Inconfidência, dadas suas proporções originais e a extensão de cada poema. Neste caso, foi completamente impossível seguir a sugestão de leitores e amigos, e mesmo as minhas próprias sugestões…
Em compensação, e a exemplo do que foi feito nas antologias anteriores, figuram aqui alguns poemas inéditos, inclusive do livro Solombra, atualmente no prelo.
(Cecília Meireles)
Leia um dos poemas inéditos de Cecília Meireles:
Solombra Falo de ti como se um morto apaixonado falasse ainda em seu amor, sobre a fronteira onde as coroas desta vida se desmontam. Sem nada ver, sigo por mapas de esperança: vento sem braços, vou sonhando encontros certos; água caída, penso-me em cristal segura. Ah, meus caminhos, ah, meu rosto, audaz e grave! O claro sol, as altas sombras, a onda inquieta e o vasto olhar das grandes noites acordadas! E abre-se o mundo por mil portas simultâneas. Quem aparece? E outras mil portas sobre o mundo se fecham. Tudo se revela tão perene que eu é que sou translúcida morta.
Cecília Meireles
Cecília Meireles (1901-1964) foi poetisa, professora, jornalista e pintora brasileira. Foi a primeira voz feminina de grande expressão na literatura brasileira, com mais de 50 obras publicadas. Com 18 anos estreia na literatura com o livro “Espectros”. Participou do grupo literário da Revista Festa, grupo católico, conservador e anti-modernista. Dessa vinculação herdou a tendência espiritualista que percorre seus trabalhos com frequência. A maioria de suas obras expressa estados de ânimo, predominando os sentimentos de perda amorosa e solidão. Uma das marcas do lirismo de Cecília Meireles é a musicalidade de seus versos. Alguns poemas como “Canteiros” e “Motivo” foram musicados pelo cantor Fagner. Em 1939 publicou “Viagem” livro que lhe deu o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de Letras.
Cecília Meireles (1901-1964) nasceu no Rio de Janeiro em 7 de novembro de 1901. Órfã de pai e mãe, aos três anos de idade é criada pela avó materna, Jacinta Garcia Benevides. Fez o curso primário na Escola Estácio de Sá, onde recebeu das mãos de Olavo Bilac a medalha do ouro por ter feito o curso com louvor e distinção. Formou-se professora pelo Instituto de Educação em 1917. Passa a exercer o magistério em escolas oficiais do Rio de Janeiro. Estreia na Literatura com o livro “Espectros” em 1919, com 17 sonetos de temas históricos.
Em 1922, por ocasião da Semana de Arte Moderna, participou do grupo da revista Festa, ao lado de Tasso da Silveira, Andrade Muricy e outros. Nesse mesmo ano, casa-se com o artista plástico português Fernando Correia Dias, com quem teve três filhas. Depois que ficou viúva casou-se com o engenheiro Heitor Vinícius da Silva Grilo. Estudou literatura, música, folclore e teoria educacional. Colaborou na imprensa carioca escrevendo sobre folclore. Atuou como jornalista em 1930 e 1931, publicou vários artigos sobre os problemas na educação. Fundou em 1934 a primeira biblioteca infantil no Rio de Janeiro.
Entre 1936 e 1938, foi professora de Literatura Luso-Brasileira na Universidade do Distrito Federal. Em 1940, lecionou Literatura e Cultura Brasileira na Universidade do Texas. Profere em Lisboa e Coimbra, conferência sobre Literatura Brasileira. Publica em Lisboa o ensaio “Batuque, Samba e Macumba”, com ilustrações de sua autoria. Em 1942 torna-se sócia honorária do Real Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro. Realiza várias viagens aos Estados Unidos, Europa, Ásia e África, fazendo conferências sobre Literatura Educação e Folclore.
Cecília Benevides de Carvalho Meireles faleceu no Rio de Janeiro, no dia 9 de novembro de 1964. Seu corpo foi velado no Ministério da Educação e Cultura. Cecília Meireles foi homenageada pelo Banco Central, em 1989, com sua efígie na cédula de cem cruzados novos.