Esta edição de O Uraguai (primeira edição em 1769) Pretende auxiliar o leitor a penetrar no sensacional inverso criado por Basílio da Gama, que tomou como assunto a chamada Guerra Guaranítica (1754-1756), decorrente da assinatura do Tratado de Madri, conflito que retraçou a geopolítica da região sul da América e definiu o destino de milhares de pessoas.
Para isso a edição oferece inicialmente ema apresentação contendo dados históricos sobre o período, a vida do escritor e o poema; nela constam também dois mapas ilustrativos das referências geográficas envolvidas e ainda uma cronologia sumária da vida de Basílio e dos principais lances políticos daquela conjuntura.
O poema em si, um conjunto de cinco cantos, num total de 1377 versos, está aqui apresentado em duas versões. Nas páginas ímpares, o leitor tem o poema original (mas atualizado ortograficamente e com pequenas alterações de pontuação, feitas para acompanhar o estilo atual de uso) e as notas que o próprio autor escreveu para certas passagens do poema (essas notas estão apontadas por asteriscos). Já nas paginas pares, a edição oferece ao leitor uma versão em prosa da narrativa de Basílio da Gama, concebida por Rodrigo Breunig**, aqui apresentada acompanhando a numeração dos versos originais, que tem a intenção de auxiliar na leitura fluente do poema; oferece ainda uma série de notas explicativas (numeradas) para esclarecer vocabulário, para traduzir trechos em língua estrangeira e para trazer breves informações históricas e geográficas que de outra forma o leitor precisaria buscar a bastante custo.
Com esse procedimento acreditam os editores que seja possível ao leitor passar a admirar proficientemente O Uraguai, este longo poema de aspecto épico que colocou em cena figuras empolgantes, reais como Sepé ou imaginadas como Lindoia, e ajudou a formar a literatura no Brasil. Um poema que mergulhou na matéria de seu tempo e se mantém vivo até hoje, fascinando leitores exigentes e criativos como Machado de Assis e Oswald de Andrade.
Basílio da Gama
Basílio da Gama (1741-1795) foi um poeta brasileiro, autor do poema épico “Uruguai”, considerado a melhor realização no gênero épico no Arcadismo brasileiro. É patrono da cadeira n.4 da Academia Brasileira de Letras. José Basílio da Gama (1741-1795) nasceu no arraial de São José dos Rios da Morte, hoje Tiradentes, em Minas Gerais, no dia 08 de abril de 1741. Ficando órfão muito cedo, foi educado no Colégio dos Jesuítas, no Rio de Janeiro. Era noviço e pretendia ingressar na carreira eclesiástica.
Em 1759, após a expulsão dos padres da Companhia de Jesus dos domínios portugueses, pelo Marques de Pombal, Basílio da Gama viaja para a Itália para completar seus estudos. Em Roma, construiu uma carreira literária e em 1768 ingressou na Arcádia Romana, assumindo o pseudônimo de Termindo Sipílio, uma conquista única entre os brasileiros da época. Em 1765, Basílio da Gama escreve “Ode a Dom José I”, rei de Portugal. Em 1767, voltou ao Rio de Janeiro e no ano seguinte foi preso, acusado de ter amizade com os jesuítas. De acordo com um decreto recente, qualquer pessoa que tivesse mantido comunicação com os jesuítas, deveria ficar exilada durante oito anos em Angola, na África.
Preso, Basílio da Gama foi levado para Lisboa, mas livra-se da pena ao escrever um poema exaltando o casamento da filha do Marques de Pombal “Epitalâmio às Núpcias da Sra. D. Maria Amália” (1769), onde elogia o ministro e ataca os jesuítas. Com isso, muda o rumo do processo e passa a ser favorecido por Pombal, que lhe concede carta de fidalguia e o nomeia Secretario do Reino. Nesse mesmo ano publica a poesia épica “Uruguai” (1769), uma obra-prima em que se encontram alguns dos mais apreciáveis versos da língua portuguesa, que tem como tema a luta de portugueses e espanhóis contra os índios de Sete Povos das Missões do Uruguai, instalados nas missões jesuítas no atual Rio Grande do Sul, que não queriam aceitar as decisões do Tratado de Madri, que delimitava as fronteiras do sul do Brasil.
Basílio da Gama soube como poucos transformar política em poesia. Em 1776 publica “Os Campos Elíseos” um poema em que se exaltam supostas virtudes cívicas de membros da família de Sebastião José. Com a morte do rei em 1777, Pombal não se mantem no cargo, é duramente atacado e vários de seus atos são anulados. Basílio da Gama permanece-lhe fiel e chega a escrever em sua defesa. Em 1788, lastima a morte de Dom José, em “Lenitivo da Saudade”. Basílio da Gama foi admitido na Academia das Ciências de Lisboa, e sua última publicação foi “Quitúbia” (1791), um poema épico celebrando um chefe africano que auxiliou a colônia na guerra contra os holandeses.
Basílio da Gama faleceu em Lisboa, Portugal, no dia 31 de julho de 1795.